“Passamos por uma série de ciclos de desemprego, queda da empregabilidade, queda da qualidade geral do mercado de trabalho, e isso acabou refletindo nas decisões dos indivíduos no tipo de contrato que eles foram buscar”, afirmou Monsueto
Nos últimos dez anos, o número de trabalhadores por conta própria no país teve uma alta de 26%, passando de 20 milhões para 25,5 milhões. Em entrevista à jornalista Cileide Alves, durante o ‘Chega pra Cá’ desta terça-feira (19), o economista da Universidade Federal de Goiás (UFG) e especialista em economia do trabalho, Eduardo Monsueto, explicou que, nesse período, a economia, não só a brasileira, mas a economia mundial, foi bem volátil do ponto de vista do mercado de trabalho, fazendo com que muitas ocupações mudassem de perfil.
“Passamos por uma série de ciclos de desemprego, queda da empregabilidade, queda da qualidade geral do mercado de trabalho, e isso acabou refletindo nas decisões dos indivíduos no tipo de contrato que eles foram buscar. Então, provavelmente, nossa taxa de informalidade hoje é um reflexo direto dessas mudanças na própria legislação do trabalho, na própria dinâmica do trabalho, e na forma como os próprios indivíduos têm reagido aos ciclos econômicos.”
Para o especialista, essa volatilidade aconteceu de duas formas: uma é a taxa de desocupação, que aumentou consideravelmente no período da pandemia de Covid-19. Outra é a duração do contrato.
“Era muito comum o indivíduo entrar na empresa como office boy e sair de lá, 20, 30 anos depois, como gerente. Isso era muito comum em gerações passadas, e hoje em dia é cada vez mais raro. As relações de contrato são cada vez mais curtas.”
Em relação ao último ponto, Monsueto reitera que hoje temos uma geração diferente, com um pensamento diferente. Além disso, o próprio comportamento das empresas mudou, requerendo profissionais polivalentes.
“Do ponto de vista macroeconômico, o mercado de trabalho acaba reagindo às variações da economia. Mas, do ponto de vista dos indivíduos e das empresas, é bem mais difícil ter uma resposta certeira sobre o porquê de essas relações de contrato estarem cada vez mais curtas. Pode ser mudança da própria geração ou percepção das empresas.”
Reforma trabalhista
Em vigor desde 2017, a reforma trabalhista mudou as regras relativas à remuneração, plano de carreira e jornada dos trabalhadores. A norma foi aprovada com o intuito de flexibilizar o mercado de trabalho e simplificar as relações entre trabalhadores e empregadores. Ao analisar essas mudanças hoje, o economista pondera que falta uma pesquisa mais ampla para comparar o mercado de trabalho antes e depois da reforma.
“Algumas pesquisas dizem que o volume de contratação não aumentou. Não se cria emprego por decreto, se cria emprego porque a sociedade está demandando um determinado tipo de trabalhador.”
O especialista também reitera que a flexibilidade das relações trabalhistas já vinha ocorrendo desde os anos 90, com contratos alternativos. O que a reforma fez, portanto, foi agrupar e deixar com uma cara mais formal.
Mão de obra
Outro ponto abordado pelo economista é a baixa qualidade do ensino que tem chegado ao mercado de trabalho, além da baixa procura por determinadas vagas. Para Monsueto, trata-se de um fato curioso, já que existem uma série de cursos técnicos para essas ocupações, chamadas de ‘chão de fábrica’.
“Os colégios tecnológicos oferecem vagas para algumas dessas atividades. Existem vários programas, o próprio sistema S oferece cursos especializados, e esses cursos não preenchem vagas, e, quando preenchem, a taxa de evasão é alta.”
Por fim, o professor observa que o que tem faltado por parte das políticas econômicas do setor público é, de fato, investir cada vez mais na qualidade do emprego e na qualidade das relações de trabalho.
Fonte: O Popular
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